"Missão é feita com os pés daqueles que vão, os joelhos daqueles que ficam e as mãos daqueles que doam."

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

É um Congelador ? É um Freezer ? Não... É a Mongólia !

    Freezer e congelador têm capacidades de refrigeração bem diferentes, o congelador atinge uma temperatura média de -6º C e o freezer é capaz de atingir temperaturas de -20°C. Ou seja: o freezer é sempre bem mais frio que o congelador, mas, nem um dos dois é tão frio quanto a Mongólia durante o inverno.


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    É isto mesmo, durante estes dias estamos enfrentando ( praticamente uma luta diária e real ) temperaturas de até -33ºC. Então, para fazer uma comparação bem simples é bem pior do que você estar dentro de um congelador ou freezer.


     

     Olha, não tem como explicar, só mesmo sentindo ( então, deixo aqui o nosso convite aqueles que desejarem ter esta sensação única na vida virem durante o inverno conhecer a Mongólia, serão nossos convidados ), eu na verdade acredito que depois que a temperatura começa a baixar dos -25º já não dá nem para diferenciar... é tão terrível, mas, tão terrível... 



     Só para vocês terem uma ideia com este frio todo, os pelinhos do nariz, isto mesmo, os pelinhos do nariz, dá para sentir eles congelando... e os cílios também congelam ( tem que tomar cuidado para não tocar neles, pois, podem quebrar). Nariz e orelhas não podem ficar desprotegidos pois parece que eles cairão a qualquer momento e se tem dores em partes do corpo que antes você nem imaginava que existiam... é uma dor terrível! 


     No entanto, a vida não para, você tem que trabalhar, ir as compras, a igreja, visitar as pessoas, viver uma vida normal ( na medida do possível, praticamente um pinguim... kkkkk ).

     Imagine você as 7:00 da manhã no ponto do ônibus esperando por uns 20 a 30 minutos ( aqui os ônibus são bem lotados, nem sempre você consegue entrar no ônibus para ir ao seu destino, as vezes tem que esperar muito ), quase sempre a temperatura de -20º ( que chega fácil aqui ). 

     Ah! Também tem que tomar muito cuidado com a neve e pior que ela o gelo que fica nas calçadas, isto torna tudo liso e perigoso, muito fácil de cair, mesmo com calçados apropriados. O interessante ( e ótimo diga-se de passagem ) é que mesmo muito frio, com muita neve e gelo o sol brilha durante o dia e o céu é Azul a grande parte do ano, dizem que são em torno de 300 dias assim, para falar a verdade eu não contei ainda ( por isto a Mongólia é conhecida como Blue Sky, o país do Céu Azul ).


     Esta semana mesmo, devido a quantidade excessiva de neve que caiu e ao gelo que se acumulou, nós tivemos que limpar a neve e o gelo em frente a nossa Escola. Confesso que eu não consegui fazer o trabalho até o final, pois, chegou em um momento que meus dedos estavam praticamente congelados mesmo com as luvas ( verdade, quando tirei as luvas eles já estavam azulados ), e meu rosto super vermelho, aí me mandaram entrar e me aquecer. O legal é que a iniciativa de ajudar a limpar a rua chamou a atenção da Tv e fizeram uma reportagem conosco ( claro,  eu apareço de coadjuvante... kkkk ) , dá uma olhadinha no vídeo abaixo neste link:
     

https://www.facebook.com/TelevisionTv8/videos/1868837296678469/


     Voltando a falar do frio... não posso me esquecer das roupas... "milhares" delas sobre o corpo. Vou confessar que as vezes eu já durmo com a roupa que vou usar por baixo durante o dia, pois, aí já está quentinha de manhã. Bom, vamos lá... uso uma calça e camisa térmica (daquelas que alpinistas usam ), depois vai mais uma camisa ( ou duas ), blusa de lã e então um super, hiper, ultra, mega casaco ( comprado aqui na Mongólia ), algumas vezes uma calça de moleton ou lã e então a calça jeans ou social e mais a meia térmica e as vezes uma outra ( meia de pêlo de camelo ). Depois ainda vem o calçado (normalmente revestido por dentro ou com uma palmilha especial )... calma ainda não acabou ( parece um ritual diário ), luvas, gorro e cachecol. Só isto! 


      E os bebês mongóis... são lindos e fofos e totalmente embalados no inverno.... é muito engraçado e interessante uma trouxinha de pano no colo dos pais, ficam todos enroladinhos lá dentro, não conseguem nem se mexer praticamente.


     O grande problema na verdade não é colocar as roupas, é ter que tira-lás quando se chega no trabalho e depois colocar tudo de novo para ir embora. Muitos de nossos alunos por exemplo, já tem a roupa do uniforme em seus armários lá na escola, chegam e trocam tudo até mesmo os sapatos, normalmente eles não ficam com as mesmas roupas, blusas e calçados que eles usam lá fora dentro dos lugares fechados.


Calma... muita calma... nem tudo é tão terrível!


     A parte boa é que as casas, apartamentos, escolas, igrejas, mercados e lojas tem aquecimento e é super quetinho... aqui onde moramos dá pra ficar de bermuda e camiseta. A água das torneiras também tem a dosagem para estarem quentinhas para lavar louça, roupas e também o chuveiro para o banho.



     Outro ponto positivo é que as roupas de frio são charmosas e elegantes ( contribuição da minha esposa sobre este assunto ), você pode dormir com cobertores bem quentinhos durante a noite toda, tomar bastante chá e chocolate quente e também muita sopa ( para quem gosta  ).

     Também é muito gostoso você se deliciar com uma refeição quentinha, feita na hora ( eu lembro que quando morávamos em Guiné-Bissau era terrível comer refeições quentes com aquele calor infernal de 45º, totalmente o oposto daqui ). É uma oportunidade também para convidar amigos e irmãos para uma refeição brasileira em nossa casa.  


     Estes dias muito frios também nos permitem ficar mais em casa a noite, e é quando aproveitamos para reunir os jovens, os amigos para momentos de jogos, conversas e muita descontração, socialização é fundamental no Campo Missionário e nos traz momentos muito bons.

     E tudo isto sem falar da neve... Ah, a neve... nossa a neve é algo espetacular... ver ela caindo, ver as árvores, casas, carros, todos cobertos por esta camada branquinha, é incrível, a paisagem fica maravilhosa e a sensação é que você está naquelas cenas de filmes que você antes nunca imaginaria presenciar.

    Uma das coisas mais legais que fizemos aqui é andar sobre um rio congelado, nossa, foi algo surreal... saber que embaixo de seus pés há água e peixes ( não me pergunte como eles sobrevivem ), aquela sensação de excitação e medo ao mesmo tempo, uma adrenalina diferente

         Mas, quer saber o que há de melhor na Mognólia?

     
     O melhor de tudo é a 
Hospitalidade do povo Mongól... qualquer família que for visitar você será sempre muito bem recebido, como um convidado de honra, eles terão um chá quente para te aquecer, um fogão sempre aquecido ( no caso das Ger´s ), algo para te oferecer para comer e sempre muito interessados no que você tem para falar.    


         
     Mas agradecemos a Deus porque temos roupas apropriadas e temos um lugar quentinho para morar e ficar, mas, existem pessoas aqui na Mongólia, que não tem um lar, são moradoras de rua... E então você deve estar se perguntando agora: Como elas sobrevivem com tanto frio? Sobrevivem dentro de buracos... 

     
     Isto mesmo, aquelas tampas que ficam nas calçadas onde abaixo passam os canos de aquecimento, é lá que dormem, que moram e sobrevivem a este frio tremendo, são conhecidos como os "homens do buraco", uma realidade muito triste aqui na Mongólia uma vida terrível de cortar o coração.
  

     Graças ao nosso bom Deus hoje já existem ONG´s aqui na Mongólia que fazem um trabalho lindíssimo com estes moradores de rua, alimentando-os, levando-os ao médico, ajudando em muitas coisas que eles precisam. Deus seja louvado por isto.


 
     
     Confesso para vocês que na verdade a vida aqui na Mongólia principalmente no inverno ( praticamente 6 meses do ano ) não é fácil. Ficar longe da família e de todos que amamos, não é fácil, viver em um lugar onde você não entende o que as pessoas falam, não é fácil, conviver com uma cultura tão diferente da sua, não é fácil... Mas, saber que Deus nos fez um chamado para "aquecer corações" e que Ele nos está capacitando para isto é algo que nos faz continuar e resistir a todos os desafios, pois, Ele nos chamou para esta Missão e com certeza tem um propósito para tudo. 


     Continuamos contanto com vossas orações e temos a certeza que Deus está no Comando!


"Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus e foram chamados segundo o seu propósito". 
Romanos 8:28
     

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

4 dias e 3 noites... Frio, cavalos e a vastidão da Mongólia...

By Gabriela Assi
   
     Este ano aqui na Mongólia fizemos uma viagem muito marcante com a turma do 3º ano de nossa Escola, esta viagem foi para o interior a convite da professora da classe, chamada Enkhbaatar Enkhchimeg carinhosamente conhecida por todos como Eggee. A professora desenvolveu este Projeto de Visitar uma família no interior do país, pois, a grande maioria dos alunos não haviam tido contato ainda com o universo rural, dormido em uma Ger ( habitação típica mongól ), ver de perto animais como cabras, vacas e cavalos. Fomos então para Dundgobi Delgertsogt e lá ficamos por 4 dias e 3 noites.

     Nossa aventura começou por volta das 10 da manhã, partimos da escola com a van e durante o trajeto nos divertimos com as crianças durante o percurso, cantamos, rimos, dormimos e é claro comemos Khuushur ( ROSHUR - comida típica mongól, parece um pouquinho com o nosso pastel, dê uma olhadinha na postagem: http://missionariosabaixodezero.blogspot.com/2015/04/nos-adaptando-ao-nosso-novo-lar.html , lá falamos sobre algumas coisas da Mongólia inclusive comida típica ).   
     
     Quando chegamos lá foi que percebemos que as Gers estavam localizadas no meio praticamente do nada, com os rebanhos ao redor e um poço. A família que nos recebeu ( uma família Xamanista, inclusive em sua Ger tinha um altar com velas acesas ), são pais de uma das alunas da escola, e eles foram muito receptíveis e amáveis. 
     

     Uma das nossas primeiras atividades a fazer foi montar uma Ger, seria lá que ficaríamos hospedados durante todos os dias. Foi a primeira vez que vimos todo o processo e participamos também.









     As crianças aproveitavam todos os momentos possíveis para brincar, mas também tínhamos atividades específicas para realizar.

      Fizemos uma escala da cozinha, algumas refeições eram da responsabilidade das meninas e outras dos meninos líderados pelo Rodrigo. Tivemos a oportunidade de provar vários pratos típicos e também de cozinhar algumas vezes com o nosso jeitinho brasileiro. A família logo nos presenteu com um pernil de carneiro para usarmos em nossas refeições e tivemos de cozinhar em uma única boca de um fogão ( tipo os fogões de lenha do Brasil ), que também era abastecido para manter a Ger aquecida.
   

     Alguns momentos estavam bem frios ( estava no fim do inverno ) e por isso aproveitamos para ficar dentro da Ger jogando alguns jogos mongóis e ensiando as crianças alguns jogos que trouxemos do Brasil, foi muito divertido!

     Como a nossa Ger era pequena e nós estávamos em uma número grande de pessoas, a família amavelmente nos disponibilizou a Ger deles ( inclusidve suas camas ) e eles se dirigiram para a Ger dos  avós que ficava ao lado. Foi muita gentileza deles, ficamos gratos e quentinhos, todos bem juntinhos, dividindo as cobertas, os sacos de dormir e tudo mais que era possível.
     
Todas as noites antes de dormir a professora contou histórias para as crianças, elas ficaram bem quetinhas até pegarem no sono e assim foram todas as noites. Um fato engraçado é que na maioria das vezes as crianças acordavam em posiçoes totalemente diferentes das que tinham dormido, sem falar que algumas conversavam a noite.

     Um dos dias fomos a um lugar próximo de onde estávamos para buscar esterco, isto mesmo, você não entendeu errado, o esterco era utilizado para alimentar o fogão da Ger, ficamos lá por horas e enchemos toda a traseira de uma caminhonete. Trabalhamos duro, todos participaram, no fim foi muito bom ver a satisfação estampada no rosto daquela família com a nossa ajuda.




   
 Em uma das manhãs fomos até o poço para ver de perto como os animais recebeiam a água para beber. Havia um pequeno lago próximo e estava congelado e ficamos nos perguntando como sera que sobrevivem os animais no inverno, á água do poço tinha que ser tirada no momento que os animais bebem, pois, depois tudo congela.

     Acredito que para as crianças um dos momentos mais inesquecíveis foi quando eles puderem pegar no colo os cabritinhos e brincar com eles, ficaram super felizes, alguns deles naturais da cidade nunca tinham visto de perto ou tocado antes um animalzinho como aquele, inclusive foram confeccionadas roupinhas para todos os filhotinhos de cabritos e foram doados a família.


   

      Nao podíamos sair de lá sem tirar alguma foto montados em uma cavalo, típicos cavalos mongóis ( disse o dono que antes eles foram selvagens ), o Rodrigo até se aventurou a cavalgar um pouco, mas eu fiquei um pouco apreensiva, como todas as histórias de cavalos selvagens da Mongólia, vai que logo aquele era um deles. 


     Ao nos despedirmos percebemos algo bem interessante, eles jogaram leite para cima nos desejando uma boa viagem, até aquele momento nunca havíamos presenciado tal situação. O leite aqui na Mongólia é realmente muito precioso, ele é utilizado em algumas cerimônias e costumes locais.


     Ficamos impressionados ao notar que na verdade precisamos de bem pouco para viver, nós é que muitas vezes complicamos o que na verdade é muito simples. Vimos a felicidade daquela família em tudo o que eles faziam, talvez pelo simples fato de estarem juntos.






     Graças ao bom DEUS ele nos deu esta oportunidade de estar com nosso alunos durante estes dias orando com eles, cantando músicas cristãs e compartilhando o amor de JESUS, aqui temos que aproveitar cada momento, pois, em nossa Escola não podemos falar de DEUS abertamente, mas, há uma Missão a ser cumprida.

"Anunciem a sua glória entre as nações, seus feitos maravilhosos entre todos os povos!"

Salmos 96:3